segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

ZÉ DIOGO OU O COISA


 


Dizem, sem mentira nenhuma. Ele surgia, babante, troncho e cheio de dentes, nas noites de lua cheia: botava medo no ar e esbaforia a animalada a galope desesperado noite adentro.

Naquele tempo, a Barra era um grande chiqueirão comunitário. Acho que foi uma experiência comunista sem que ninguém conhecesse, ainda, o sentido dessa palavra. Se fosse um pouco mais tarde, certamente os militares teriam prendido, encarcerado e matado todos os pobres lavradores, por suspeitas de serem, assim, unha e carne com o pessoal da China e da Rússia.

Não há mais quem possa esclarecer sobre a origem da idéia do chiqueirão comunitário e nem sobre como ele foi surgindo. Da China, da Rússia ou do Araguaia, ela não pode ter vindo.

Não há textos e nem mapas do chiqueirão. Hoje, temos somente os sinais do traçado de seus contornos, por meio das valetas que ainda restam cobertas de mato e de pastagens. O chiqueirão era formado por pedaços de terra de cada morador, formando um vasto espaço para uso da comunidade, dentro da qual viviam lavradores, porcos, cabras, galinhas, patos, burros e uma imensidão de pássaros cujo vôo trovejava e encobria a copada das árvores.

Assim, a fartura existia demoradamente. A passarada comia dos porcos e dos chiqueiros e todos tinham carne e toucinho o ano inteiro. As prendas não paravam de ir e vir pelas estradas, de uma casa para outra, sempre que matavam porco. Era comum um menino cruzar com outro na estrada, cada um levando, dentro de dois pratos emborcados e amarrados com alvos panos brancos, os mais saborosos nacos de carne: “minha mãe mandou pra senhora”.

Foi nesse tempo – ou bem antes - que apareceu o Zé Diogo, uma criatura indefinida, meio porco, meio cão, meio gente agoniada e raivosa, rosnando e babando sangue nas noites de lua cheia.

Nesse tempo, plantava-se muito fumo pelas encostas e grotas. O fumo era colhido, secado e amontoado nas salas e quartos. Depois, vinham as noites de “distala” de fumo. Distalava-se fumo até de madrugada e com frio de doer nos ossos.

Às horas mortas, cada um voltava para casa, encolhidos, esfregando as mãos geladas, proseando e contando causos.

Mesmo os mais descrentes nas histórias de alma de outro mundo e de assombrações, mesmo eles não deixavam de ter algum medo, quando se falava do tal Zé Diogo. Diziam que o cabelo arrepiava e coisas mais.

Meu pai não acreditava em nada disso, mas contava coisas, para ele, sem explicação. Uma delas era o caso da inquietude pavorosa do bando de burros e de cavalos que transitava no chiqueirão de porco. Em certas noites, os animais corriam sem parar, indo e vindo da casa do tio Dito Pereira até a Barrinha, bufando, apavorados, como se alguma coisa os perseguisse pelo vento. Diziam que era o Zé Diogo.

Meu pai duvidava da existência desse coisa penumbroso - alma penada ou o que fosse, cujo rancor rosnado era de breu, das profundas horas de agonia e perdição – mas também não podia explicar a aflição da animalada em pavorosa noite adentro.

Quando isso acontecia, no outro dia os animais ficavam sempre juntos em um canto do pasto, ariscos, trocando as orelhas e, muitas vezes, com sal no peito: suor da galopagem noturna, na fuga do que não se sabia o que ou quem.

Sabemos que isso são invencionices de um povo invencioneiro. Mas para que essas histórias de dar medo?

Acho que é para treinar a coragem de enfrentar – não as feras e as assombrações – mas o homem mesmo - quando ele sobe ao poder e perde o sentido da ética e do zelo pelo bem comum.

Genésio Fernandes
(Texto e imagem. Janeiro de 2012)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

BARREIRA DE URUBUS SALVARÁ IMUNIDADE PARLAMENTAR DOS VEREADORES DE BRUZUNDANGA


Tem urubus nesta história, sim, mas esperem um pouco. Antes, porém, é preciso dizer que, como cidadão de Bruzundanga, tenho direito e mesmo dever. Direito e dever de acompanhar o debate político travado na Câmara de Vereadores de minha cidade. Geralmente não fazemos isso, porque achamos uma coisa chata, porque somos descrentes da política – ou, ainda, porque esquecidos de nossa força.

Mas, como não podemos pensar sempre assim, saí de casa e fui à cidade ver a reunião da Câmara – porque luto pela construção de uma ponte e por melhorias na estrada de meu bairro. Se participando, escrevendo, falando e brigando já é difícil e demorado o atendimento do prefeito - imagine se a gente ficar acomodado em casa e nunca aparecer por lá, para olhar na cara daqueles que o povo elegeu.

Não perdi tempo. A reunião da câmara foi um grande espetáculo, apesar de cansativa!

Ela trataria, entre outros assuntos, de possíveis condutas ilegais por parte do poder executivo da prefeitura. Não vou tratar disso aqui, mas de um dos rumos duvidoso e mesmo perigoso que a dita reunião tomou – e que permite à gente rir para não chorar. Por causa disso é que os urubus vão entrar nesta história.

Tudo começou quando, no meio da reunião, a palavra foi dada a um advogado de quem reconheço a competência e a cultura, no desempenho de suas funções. Ele estava lá para defender um cliente chamuscado e ressentido com críticas dirigidas ao prefeito da cidade, por um honesto membro da câmara, em reunião anterior. Portanto o ilustre advogado fez o que deveria fazer, por todos os meios retóricos que conhece bem, citando leis e alinhando argumentos. Foi farto nisso, como um plantador de batatas no ensino do seu plantio. Quem é do ramo sabe de tudo e mais um pouco... e pode até pecar por excesso, defendendo a moderação. E foi o que aconteceu.

Para defender a cliente e repreender o vereador, por excesso no discurso crítico, falou muito na falta de moderação no uso da palavra, mas, no fim, acabou cometendo o mesmo pecado que condenava. Foi assim como segue.

Começou por dizer que a imunidade parlamentar de que goza um vereador, para criticar o executivo e quem quer que seja, não é para cometer abusos. Quanto a isso tem razão. Mas, em seguida, exagerou um pouco, no entender dos membros da mesa e dos ouvintes da platéia. Exagerou quando sugeriu que as críticas de um vereador nem deveriam ultrapassar os limites do município, porque, se ultrapassar, ele cometeria crime sem proteção da imunidade parlamentar.

Se todos os presentes não exageramos, também, na interpretação, o que ele quis dizer é que a voz crítica do vereador deveria ser baixa, para não ser ouvida por todos e nem muito longe da câmara e do município. Dessa forma, nem o uso do rádio e da Internet seria conveniente, pois esses meios de comunicação fazem a voz crítica dos vereadores soar alto e muito longe, fora do município e mesmo do Brasil.

Ora, isso, além de ser um exagero, não cabe para o nosso tempo crivado de meios de comunicação sem limites. Desse jeito, até os senadores de Brasília poderiam perder a imunidade parlamentar, pois são ouvidos até nos cafundós da China, pela Internet, rádio e TV. Como resolver esse problema, se isso for verdade?

Os cidadãos da platéia ficaram perguntando: será que o jeito é dizer aos vereadores que toda crítica só pode ser feita cochichada, para ser ouvida por poucos.? Será que deveríamos cercar o município com barreiras contra ondas de rádio para que os vereadores possam divulgar o que falam, sem perder a imunidade parlamentar? Muita gente ficou matutando nas possíveis implicações do discurso do distinto advogado.

Foi aí que os urubus entraram na história. Um cidadão presente (bruzundanguense de coração) sugeriu ao presidente da câmara um projeto para salvar, de uma só vez, o direito de critica e a imunidade parlamentar dos vereadores. E ele explicou como, com ilustração e tudo.

O projeto dele prevê a criação de barreiras silenciadoras de discurso crítico, nos limites do município de Bruzundanga com os demais municípios.

Para isso, consultou técnicos renomados em assuntos de ondas de rádio, mas eles disseram que não sabiam de meios para barrar ondas sonoras. Lembraram apenas que os americanos tem um avião pretudo e urubuzento que absorve ondas de radar... mais nada.

Então, depois de muito estudo e farta imaginação, esse aplicado cidadão achou uma solução: os urubus! Uma barreira de urubus, na vertical, nos limites bruzundanguenses com os demais municípios seria a solução.


O presidenta da câmara estranhou a proposta, mas a explicação minuciosa do imaginoso senhor não deixou de ser, no mínimo, curiosa.

Segundo esse senhor, a escolha dos urubus se deve ao fato de essas aves sumidas estarem reaparecendo em grande número com o aumento de fedentinas municipais e carniças à vista. Chegou a pensar na escolha do tucano, que também está reaparecendo, pois ele tem bico grande e duro, mas foi descartado porque tem corpo pequeno. Assim o escolhido foi mesmo o urubu.

Para o autor do projeto, esses bichos atraem a fedentina municipal que vai pelo ar. A fedentina chega neles e para. Eles chupam a fedentina e vivem dessa chupação catingosa. Por isso, concluiu que, se as ondas condutoras do discurso crítico dos vereadores viajam pelo mesmo ar que carrega o mal cheiro e as catingas, uma BARREIRA DE URUBUS FECHANDO O MUNICÍPIO poderia barrar as catingas e as ondas sonoras condutoras de críticas ao executivo.

Assim, os vereadores poderiam criticar à vontade. Suas palavras ficariam como gato em saco de estopa – tentando sair do município e só dentro do município. Se isso funcionar, disse ele, estão salvas as duas coisas: o DIREITO DE CRITICAR EM VOZ ALTA, PELO RÁDIO E PELA INTERNET; e a IMUNIDADE PARLAMENTAR dos vereadores.

O presidente da câmara recebeu o projeto educadamente, agradeceu meio desconfiado do estado mental do proponente, mas prometeu estudo demorado – pois tudo deve ser tentado para salvar as duas coisas preciosas para o exercício do mandato: o direito à crítica e à imunidade parlamentar.

O problema, diz ele, é achar quem treine esses urubus para o sublime serviço de composição da tal barreira urubuzenta. A tarefa é das mais difíceis... Adestramento é coisa fácil, mas os defensores dos animais já disseram que isso fere o direito dos urubus, que só podem se alimentar de carniça e fedentina puras – sem mistura de coisas tóxicas como ondas de rádio e palavra censurada...

Como todos podem ver, vai haver impasse... mas dizem as más línguas que tem gente poderosa interessada em ajudar na execução desse projeto, por mais estranho que ele seja...

Vamos aguardar: nas terras de Bruzundanga tudo pode acontecer - inclusive o comparecimento em massa dos cidadãos às reuniões da Câmara de Vereadores.

Genésio Fernandes, 25 novembro 2011

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O RIBEIRÃO DOS CRIMINOSOS: É PRECISO AJUDÁ-LO!

O RIBEIRÃO DOS CRIMINOSOS: É PRECISO AJUDÁ-LO!


Que nome mais estranho esse de um rio tão bonito! Ele começa lá para cima dos Pintos Negreiros. Nasce em grotas solitárias, desce, fica meio sem graça no meio de tanta praga de braquiara e cai nos Pintos, bem no meio do povoado. Ali, faz um barulho meio triste debaixo da pontinha da rua que sobre para a igreja, emburra e, como que empaca, assustado com bosta e lixo – e depois segue, encachoeirando-se aqui e ali.

Em alguns lugares, suas margens foram peladas e nunca mais foram tomadas providência para reflorestamento. Na verdade, a gente não sabe como foi possível, debaixo de tanta fiscalização, ainda acontecer isso. E, se houve fiscalização, arrecadaram multas – mas nada foi exigido para formar pelo menos uns fiapos de mato para proteção do seu sofrido corpo. Assim, lá vai ele, nuzinho, descendo, até que, depois da ponte perigosa, seu corpo some no matagal.

Desse ponto, ele vai rolando e cantando entre as pedras, até chegar na cachoeira. Ah! A cachoeira! Quem dos mais velhos não a conhece? Ela ainda é bonita, mas foi imensamente bela no passado e impunha todos os respeitos.

Ali, meu avô, meu pai e meu tio Luiz iam sempre pescar, com vara ou com jacá. Passavam sangue no fundo do jacá ou amarravam ali tripa de frango e depois mergulhavam-no nas espumas da queda. Quando tiravam, o jacá estava abarrotado de lambaris. Davam as fritadas mais saborosas do mundo.

Para baixo, até chegar nas cachoeiras de minha casa, havia os poços famosos. Era jogar o anzol e fisgar saricangas de mais de meio quilo. Eu, pequenino ainda, jogava a vara com esperança e medo: esperança de uma ação heróica; medo de o peixe me puxar para dentro do rio...

Quando o peixe era fisgado, relampejava prata, fios de ouro e sol à flor das águas – e lutava, como uma agilidade e força que os debilitados peixes de hoje parecem não ter mais. Imensas alegrias! Fartura nos fundos de casa! Aonde foi tudo isso?

Vieram os machados insensatos, a ignorância das coisas, a frouxidão da fiscalização, o lixo, a bosta, os ácidos corrosivos, os venenos, os vasilhames incorruptíveis – e tudo ficou azedo, empestado. A maioria dos peixes e viventes morreram. Há pouca coisa viva, um fio de esperança, ainda.

Acho que o erro é de todo mundo, mas, principalmente do poder público, prefeitura, órgãos de fiscalização. A ação deles é muito deficiente.

Para mudar é preciso educação. Por que? Porque dentro das cabeças das pessoas já tem outra idéia que é preciso ser tirada primeiro para poder ser colocada ali a nova. Destro da cabeças dos mais velhos dessas roças, já tinham colocado a idéia de que o cabra bom e trabalhador era o que metia o machado e derrubava tudo. A ordem era desbravar. Essa idéia veio de longe: o filosofo Bacon já dizia que o homem tinha de “estuprar” a natureza, para tirar dela o sustento e o desenvolvimento. Por isso, digo que não basta chegar, multar, prender. É preciso uma ação educativa, esclarecedora – depois disso a aplicação da lei em complemento. Só assim, vão entender que o cabra bom, inteligente, responsável é aquele que tem um pedaço de mato e as beiras de rio e de nascente arborarizadas.

Está aí uma tarefa para a secretaria de turismo da prefeitura e o IEF: fazer parcerias conversando, planejar ações de mutirão de plantio de peroba rio abaixo. E estabelecer a meta de que, dentro de três anos, todo mundo faça fossa céptica em suas casas. Com mutirão dá. Muita coisa mudaria – e o rio ficaria grato e devolveria em dobro.

A outra coisa é a exigência de que aquela praga de usina, abaixo do Rio Manso, tenha uma escada de peixes, sem a qual os peixes não podem subir para desova. Coisas impossíveis? Acho que não. È preciso que alguma autoridade use sua autoridade.

Genésio Fernandes
O círculo no sol ou o leitor de um livro só.

Naquele lugar pequeno, a vida era de uma riqueza enorme. Mas a chave para dar sentido a coisas, fenômenos e ações humanas, vinha das idéias de um livro só. O entendimento de tudo era dado por um único livro, a Bíblia. Alguns nem isso tinham. Ela era a depositária do sentido único, da verdade de todas as verdades. Éramos leitores de um livro só. Por isso, às vezes, nos víamos às voltas com a morte, na aventura de atribuir sentido ao mundo.

Sol brabo, dia longo. Eu estava na roça com meu pai. À tarde, cansados, topamos terreno pedregoso. A terrinha ordinária ia se elevando aos poucos até a cerca da estrada. Eu me perguntava por que teimar com plantação naquele lugar. O feijão crescia meio enrolado e o milho ficava anão. A palha de pinheiro incomodava os pés em tempo de capina, a enxada tropeçava nos pedregulhos, errava o curso.

Curvado, raramente eu olhava para o alto. Nesse dia, porém, levantei os olhos para ver quanta braça de céu restava ainda entre o sol e a serra. Foi quando vi, pela primeira vez na vida, aquele alo amarelado circundando o sol, assim como um imenso olho sobre nós. Coisa sinistra! E do céu.

Estremeci. As perguntas emperraram a garganta seca. A fama de menino arteiro, meus pecados todos, a impiedade de Deus e a chusma de diabos com pretensões enormes sobre minha alma pequena induziam-me o raciocínio e exigiam cautela. Sobressaltado, fiquei um tempo cabisbaixo, tocando a enxada sem perceber-lhe o peso. Por fim, perguntei ao meu pai o que vinha a ser aquilo.

Que desgraça! Meu pai fez pausa, nem olhou para a coisa sinistra, deu idéia de capinar mais rápido e fuzilou sério: é o sinal do fim do mundo... o mundo vai acabar. E ficou calado.

Meu corpo suado esfriou naquele mar de impiedade e silêncio. Sem rumo e em desgoverno, teimei em recobrar o ritmo das enxadadas, arrastando pedregulhos e matos para o pé e rezando mais do que a boca podia. O coração disparou feito bicho em agonia.

Entendi a coisa como na Bíblia. Faltavam os anjos nos quatro cantos das serras, mas as trombetas soariam primeiro com estridência de luz, de fogo, de aço de enxada em cascalho seco. Chegara a hora. O grande livro seria aberto e uma voz faria a impiedosa leitura da vida escrita, o escancaramento de todos os meus pecados. Tintim por tintim! Agora é que era! Haveria gritos e ranger de dentes, mas eu resistia com reza e rasteira.


Gaguejava ave-marias e tentava desenredar a linhagem de meus pecados para colocá-los em páginas de menor conta.

Não sei se meu pai percebeu a judiação crescendo na poeirinha rala daquela pausa sem-vergonha. Não sei e nunca lhe perguntei com medo de chorar já grande. Só sei que ele endireitou a espinha e desfez o juízo final à prestação: é sinal de chuva! Círculo no sol é sinal de chuva.

Que alívio! Que suave cheiro o da terra, a poeirinha baixa ao nosso redor, o aço da enxada cortando tudo, eternamente leve, necessário e tão infinitamente distante do nada sem remédio. Que o sol estivesse a vinte braças da serra! Que houvesse frio, chuva ou calor! A luz alaranjada do poente subia a encosta e a sombra da tarde ia recolhendo as pastagens, o gado, os pássaros e todo alarido invisível dos grilos, gafanhotos e viventes miúdos. O que eu não daria para estar sempre neste mundo!

A falta de livros numa cidade, na escola e na família, é uma pena. O ponto de vista de um livro só dificulta dar sentido às coisas, faz sofrer, mata.

Por mais livros
Genésio Fernandes


Meu pai me contou, saboreando fumaça de pito e eu repasso o narrado. Aconteceu nas Posses ou na Mata dos Zidório: ele não está mais aqui para eu conferir, mas acho mesmo que foi na Mata. Só sei que envolve um campo de futebol com três nomes dos arredores: Cesarino Batista, carpinteiro de primeira e irmão do Zé Tio e do Geraldo Batista.

Há pessoas que amam um campo de futebol, porque, para eles, o campo de futebol é o centro do mundo, da vida, do prazer e da beleza. Houve tempo em que cada lugarejo tinha esse mundo e seu centro, para cada domingo, depois de semana dura fussando a terra nas montanhas pedregosas desta Minas Gerais.

O campo era terreno do Zé Tio, mas, um belo dia o Geraldo Batista, na ausência do irmão, arou o campo de futebol e plantou trigo... Se todo mundo sabia o que era uma bola e uma jogada bem feita, ninguém naqueles grotões marienses sabia o que era trigo. Aconteceu, porém, que o campo virou trigal com o vento de cada dia e a curiosidade de todo mundo. Os cachos foram surgindo e produziu trigo como nunca, deixando o povo intrigado de queixo caído.

Dizem que para limpar o trigo, Geraldo Batista o colocou no monjolo cercado de lençóis e virou rei do trigo nas redondezas.

Meu pai não leu os pensamentos desse homem curioso, nem eu e nem o caro leitor dessas linhas – mas é bem possível que o Geraldo Batista tivesse planos de replantar o campo e, depois, cobrir de trigo terras muito maiores do que se possa imaginar. Mas, contra a paixão do futebol, nem o melhor trigo, nem o pão e a multiplicação dos pães tem poder. Acho mesmo que se Jesus andasse por esses povoados encravados nos grotões e serras, o povo lhe pediria outra coisa: a multiplicação das bolas e dos campos.

Assim, aconteceu o previsível: o Zé Tiu bateu o pé e disse: “nada de nova plantação, o terreno é meu e contente-se com essa vez” - e deixou formar de novo o campo de futebol, graminha por graminha, o gol, o centro e o lugar de bater os pênaltis. Do “jeitinho que está lá até hoje”, disse meu pai, quando me contou o caso. Será? Não sei se ainda está lá ou se tudo acabou com o sumiço que deram nos campinhos de futebol Brasil afora?

A essa altura, o contador de histórias considerou que eu estivesse contente e eu, de fato, estava feliz com a figura do Zé Tiu e seu amor pelo futebol, ali pertinho da sua casa, com o alarido dominical dos jogadores e da torcida. Soube disso pela tragada costumeira que dava no pito nos finais dos causos que contava. Então perguntei o que fora feito do outro sonhador de plantações desconhecidas, de lugares muito distantes e de outros centros de mundo.

Meu pai foi breve. “depois disso, o Geraldo Batista plantou batata, arranjou dinheiro e foi para o Paraná, em Sobradinho. Lá comprou 22 alqueires de mato com água em abundância. Desmatou, montou serraria e ficou rico. Até veio passar uns tempos com a família nas Posses, mas arranjou uma ferida na perna, sem cura, e morreu com isso. Criou duas famílias e deixou todos bem. Diziam que era meio ‘espelotiado’, andava armado, atirou um homem de raspão. Mas todos gente de sabedoria.”

Historias de nossa terra. Belas e emocionantes histórias e, digo, mesmo: promessas de roteiros de filme... quem sabe um dia.

Genésio Fernandes, novembro de 2011

sábado, 5 de novembro de 2011

Comunidade em luto pela perda de uma cara 100%

Pessoal.

Boa tarde

Toda a comunidade de Pintos Negreiros se encontra de luto e entrestecida pela perda de uma cara muito gente boa, muito alegre, irreverente, amigo, ...... e dono de muitos outros bons adjetivos que era o Adilson.
Tenho certeza que o mundo perde muito com a sua morte trágica, inesplicável e misteriosa.
Que a família encontre em Deus a força necessária para superar este grande e inesperada tristeza.
Minha solidariedade e sentimentos.

Abraços

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Novo Blog de Pintos Negreiros

Galera.

Acaba de ser criado o Blog de Pintos Negreiros.
Espaço para debates, elogios, críticas, etc, desde que não seja usado para promover denuncias anônimas descabidas ou sem prova como acabou sendo usado o Livro de Visitas do site.
Usem a vontade para cobrar os governantes.
Contamos com a colaboração e bom senso de todos
Um grande abraço.