quarta-feira, 23 de novembro de 2011

O RIBEIRÃO DOS CRIMINOSOS: É PRECISO AJUDÁ-LO!

O RIBEIRÃO DOS CRIMINOSOS: É PRECISO AJUDÁ-LO!


Que nome mais estranho esse de um rio tão bonito! Ele começa lá para cima dos Pintos Negreiros. Nasce em grotas solitárias, desce, fica meio sem graça no meio de tanta praga de braquiara e cai nos Pintos, bem no meio do povoado. Ali, faz um barulho meio triste debaixo da pontinha da rua que sobre para a igreja, emburra e, como que empaca, assustado com bosta e lixo – e depois segue, encachoeirando-se aqui e ali.

Em alguns lugares, suas margens foram peladas e nunca mais foram tomadas providência para reflorestamento. Na verdade, a gente não sabe como foi possível, debaixo de tanta fiscalização, ainda acontecer isso. E, se houve fiscalização, arrecadaram multas – mas nada foi exigido para formar pelo menos uns fiapos de mato para proteção do seu sofrido corpo. Assim, lá vai ele, nuzinho, descendo, até que, depois da ponte perigosa, seu corpo some no matagal.

Desse ponto, ele vai rolando e cantando entre as pedras, até chegar na cachoeira. Ah! A cachoeira! Quem dos mais velhos não a conhece? Ela ainda é bonita, mas foi imensamente bela no passado e impunha todos os respeitos.

Ali, meu avô, meu pai e meu tio Luiz iam sempre pescar, com vara ou com jacá. Passavam sangue no fundo do jacá ou amarravam ali tripa de frango e depois mergulhavam-no nas espumas da queda. Quando tiravam, o jacá estava abarrotado de lambaris. Davam as fritadas mais saborosas do mundo.

Para baixo, até chegar nas cachoeiras de minha casa, havia os poços famosos. Era jogar o anzol e fisgar saricangas de mais de meio quilo. Eu, pequenino ainda, jogava a vara com esperança e medo: esperança de uma ação heróica; medo de o peixe me puxar para dentro do rio...

Quando o peixe era fisgado, relampejava prata, fios de ouro e sol à flor das águas – e lutava, como uma agilidade e força que os debilitados peixes de hoje parecem não ter mais. Imensas alegrias! Fartura nos fundos de casa! Aonde foi tudo isso?

Vieram os machados insensatos, a ignorância das coisas, a frouxidão da fiscalização, o lixo, a bosta, os ácidos corrosivos, os venenos, os vasilhames incorruptíveis – e tudo ficou azedo, empestado. A maioria dos peixes e viventes morreram. Há pouca coisa viva, um fio de esperança, ainda.

Acho que o erro é de todo mundo, mas, principalmente do poder público, prefeitura, órgãos de fiscalização. A ação deles é muito deficiente.

Para mudar é preciso educação. Por que? Porque dentro das cabeças das pessoas já tem outra idéia que é preciso ser tirada primeiro para poder ser colocada ali a nova. Destro da cabeças dos mais velhos dessas roças, já tinham colocado a idéia de que o cabra bom e trabalhador era o que metia o machado e derrubava tudo. A ordem era desbravar. Essa idéia veio de longe: o filosofo Bacon já dizia que o homem tinha de “estuprar” a natureza, para tirar dela o sustento e o desenvolvimento. Por isso, digo que não basta chegar, multar, prender. É preciso uma ação educativa, esclarecedora – depois disso a aplicação da lei em complemento. Só assim, vão entender que o cabra bom, inteligente, responsável é aquele que tem um pedaço de mato e as beiras de rio e de nascente arborarizadas.

Está aí uma tarefa para a secretaria de turismo da prefeitura e o IEF: fazer parcerias conversando, planejar ações de mutirão de plantio de peroba rio abaixo. E estabelecer a meta de que, dentro de três anos, todo mundo faça fossa céptica em suas casas. Com mutirão dá. Muita coisa mudaria – e o rio ficaria grato e devolveria em dobro.

A outra coisa é a exigência de que aquela praga de usina, abaixo do Rio Manso, tenha uma escada de peixes, sem a qual os peixes não podem subir para desova. Coisas impossíveis? Acho que não. È preciso que alguma autoridade use sua autoridade.

Genésio Fernandes

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