quarta-feira, 30 de novembro de 2011
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
O RIBEIRÃO DOS CRIMINOSOS: É PRECISO AJUDÁ-LO!
O RIBEIRÃO DOS CRIMINOSOS: É PRECISO AJUDÁ-LO!
Que nome mais estranho esse de um rio tão bonito! Ele começa lá para cima dos Pintos Negreiros. Nasce em grotas solitárias, desce, fica meio sem graça no meio de tanta praga de braquiara e cai nos Pintos, bem no meio do povoado. Ali, faz um barulho meio triste debaixo da pontinha da rua que sobre para a igreja, emburra e, como que empaca, assustado com bosta e lixo – e depois segue, encachoeirando-se aqui e ali.
Em alguns lugares, suas margens foram peladas e nunca mais foram tomadas providência para reflorestamento. Na verdade, a gente não sabe como foi possível, debaixo de tanta fiscalização, ainda acontecer isso. E, se houve fiscalização, arrecadaram multas – mas nada foi exigido para formar pelo menos uns fiapos de mato para proteção do seu sofrido corpo. Assim, lá vai ele, nuzinho, descendo, até que, depois da ponte perigosa, seu corpo some no matagal.
Desse ponto, ele vai rolando e cantando entre as pedras, até chegar na cachoeira. Ah! A cachoeira! Quem dos mais velhos não a conhece? Ela ainda é bonita, mas foi imensamente bela no passado e impunha todos os respeitos.
Ali, meu avô, meu pai e meu tio Luiz iam sempre pescar, com vara ou com jacá. Passavam sangue no fundo do jacá ou amarravam ali tripa de frango e depois mergulhavam-no nas espumas da queda. Quando tiravam, o jacá estava abarrotado de lambaris. Davam as fritadas mais saborosas do mundo.
Para baixo, até chegar nas cachoeiras de minha casa, havia os poços famosos. Era jogar o anzol e fisgar saricangas de mais de meio quilo. Eu, pequenino ainda, jogava a vara com esperança e medo: esperança de uma ação heróica; medo de o peixe me puxar para dentro do rio...
Quando o peixe era fisgado, relampejava prata, fios de ouro e sol à flor das águas – e lutava, como uma agilidade e força que os debilitados peixes de hoje parecem não ter mais. Imensas alegrias! Fartura nos fundos de casa! Aonde foi tudo isso?
Vieram os machados insensatos, a ignorância das coisas, a frouxidão da fiscalização, o lixo, a bosta, os ácidos corrosivos, os venenos, os vasilhames incorruptíveis – e tudo ficou azedo, empestado. A maioria dos peixes e viventes morreram. Há pouca coisa viva, um fio de esperança, ainda.
Acho que o erro é de todo mundo, mas, principalmente do poder público, prefeitura, órgãos de fiscalização. A ação deles é muito deficiente.
Para mudar é preciso educação. Por que? Porque dentro das cabeças das pessoas já tem outra idéia que é preciso ser tirada primeiro para poder ser colocada ali a nova. Destro da cabeças dos mais velhos dessas roças, já tinham colocado a idéia de que o cabra bom e trabalhador era o que metia o machado e derrubava tudo. A ordem era desbravar. Essa idéia veio de longe: o filosofo Bacon já dizia que o homem tinha de “estuprar” a natureza, para tirar dela o sustento e o desenvolvimento. Por isso, digo que não basta chegar, multar, prender. É preciso uma ação educativa, esclarecedora – depois disso a aplicação da lei em complemento. Só assim, vão entender que o cabra bom, inteligente, responsável é aquele que tem um pedaço de mato e as beiras de rio e de nascente arborarizadas.
Está aí uma tarefa para a secretaria de turismo da prefeitura e o IEF: fazer parcerias conversando, planejar ações de mutirão de plantio de peroba rio abaixo. E estabelecer a meta de que, dentro de três anos, todo mundo faça fossa céptica em suas casas. Com mutirão dá. Muita coisa mudaria – e o rio ficaria grato e devolveria em dobro.
A outra coisa é a exigência de que aquela praga de usina, abaixo do Rio Manso, tenha uma escada de peixes, sem a qual os peixes não podem subir para desova. Coisas impossíveis? Acho que não. È preciso que alguma autoridade use sua autoridade.
Genésio Fernandes
O círculo no sol ou o leitor de um livro só.
Naquele lugar pequeno, a vida era de uma riqueza enorme. Mas a chave para dar sentido a coisas, fenômenos e ações humanas, vinha das idéias de um livro só. O entendimento de tudo era dado por um único livro, a Bíblia. Alguns nem isso tinham. Ela era a depositária do sentido único, da verdade de todas as verdades. Éramos leitores de um livro só. Por isso, às vezes, nos víamos às voltas com a morte, na aventura de atribuir sentido ao mundo.
Sol brabo, dia longo. Eu estava na roça com meu pai. À tarde, cansados, topamos terreno pedregoso. A terrinha ordinária ia se elevando aos poucos até a cerca da estrada. Eu me perguntava por que teimar com plantação naquele lugar. O feijão crescia meio enrolado e o milho ficava anão. A palha de pinheiro incomodava os pés em tempo de capina, a enxada tropeçava nos pedregulhos, errava o curso.
Curvado, raramente eu olhava para o alto. Nesse dia, porém, levantei os olhos para ver quanta braça de céu restava ainda entre o sol e a serra. Foi quando vi, pela primeira vez na vida, aquele alo amarelado circundando o sol, assim como um imenso olho sobre nós. Coisa sinistra! E do céu.
Estremeci. As perguntas emperraram a garganta seca. A fama de menino arteiro, meus pecados todos, a impiedade de Deus e a chusma de diabos com pretensões enormes sobre minha alma pequena induziam-me o raciocínio e exigiam cautela. Sobressaltado, fiquei um tempo cabisbaixo, tocando a enxada sem perceber-lhe o peso. Por fim, perguntei ao meu pai o que vinha a ser aquilo.
Que desgraça! Meu pai fez pausa, nem olhou para a coisa sinistra, deu idéia de capinar mais rápido e fuzilou sério: é o sinal do fim do mundo... o mundo vai acabar. E ficou calado.
Meu corpo suado esfriou naquele mar de impiedade e silêncio. Sem rumo e em desgoverno, teimei em recobrar o ritmo das enxadadas, arrastando pedregulhos e matos para o pé e rezando mais do que a boca podia. O coração disparou feito bicho em agonia.
Entendi a coisa como na Bíblia. Faltavam os anjos nos quatro cantos das serras, mas as trombetas soariam primeiro com estridência de luz, de fogo, de aço de enxada em cascalho seco. Chegara a hora. O grande livro seria aberto e uma voz faria a impiedosa leitura da vida escrita, o escancaramento de todos os meus pecados. Tintim por tintim! Agora é que era! Haveria gritos e ranger de dentes, mas eu resistia com reza e rasteira.
Gaguejava ave-marias e tentava desenredar a linhagem de meus pecados para colocá-los em páginas de menor conta.
Não sei se meu pai percebeu a judiação crescendo na poeirinha rala daquela pausa sem-vergonha. Não sei e nunca lhe perguntei com medo de chorar já grande. Só sei que ele endireitou a espinha e desfez o juízo final à prestação: é sinal de chuva! Círculo no sol é sinal de chuva.
Que alívio! Que suave cheiro o da terra, a poeirinha baixa ao nosso redor, o aço da enxada cortando tudo, eternamente leve, necessário e tão infinitamente distante do nada sem remédio. Que o sol estivesse a vinte braças da serra! Que houvesse frio, chuva ou calor! A luz alaranjada do poente subia a encosta e a sombra da tarde ia recolhendo as pastagens, o gado, os pássaros e todo alarido invisível dos grilos, gafanhotos e viventes miúdos. O que eu não daria para estar sempre neste mundo!
A falta de livros numa cidade, na escola e na família, é uma pena. O ponto de vista de um livro só dificulta dar sentido às coisas, faz sofrer, mata.
Por mais livros
Genésio Fernandes

Meu pai me contou, saboreando fumaça de pito e eu repasso o narrado. Aconteceu nas Posses ou na Mata dos Zidório: ele não está mais aqui para eu conferir, mas acho mesmo que foi na Mata. Só sei que envolve um campo de futebol com três nomes dos arredores: Cesarino Batista, carpinteiro de primeira e irmão do Zé Tio e do Geraldo Batista.
Há pessoas que amam um campo de futebol, porque, para eles, o campo de futebol é o centro do mundo, da vida, do prazer e da beleza. Houve tempo em que cada lugarejo tinha esse mundo e seu centro, para cada domingo, depois de semana dura fussando a terra nas montanhas pedregosas desta Minas Gerais.
O campo era terreno do Zé Tio, mas, um belo dia o Geraldo Batista, na ausência do irmão, arou o campo de futebol e plantou trigo... Se todo mundo sabia o que era uma bola e uma jogada bem feita, ninguém naqueles grotões marienses sabia o que era trigo. Aconteceu, porém, que o campo virou trigal com o vento de cada dia e a curiosidade de todo mundo. Os cachos foram surgindo e produziu trigo como nunca, deixando o povo intrigado de queixo caído.
Dizem que para limpar o trigo, Geraldo Batista o colocou no monjolo cercado de lençóis e virou rei do trigo nas redondezas.
Meu pai não leu os pensamentos desse homem curioso, nem eu e nem o caro leitor dessas linhas – mas é bem possível que o Geraldo Batista tivesse planos de replantar o campo e, depois, cobrir de trigo terras muito maiores do que se possa imaginar. Mas, contra a paixão do futebol, nem o melhor trigo, nem o pão e a multiplicação dos pães tem poder. Acho mesmo que se Jesus andasse por esses povoados encravados nos grotões e serras, o povo lhe pediria outra coisa: a multiplicação das bolas e dos campos.
Assim, aconteceu o previsível: o Zé Tiu bateu o pé e disse: “nada de nova plantação, o terreno é meu e contente-se com essa vez” - e deixou formar de novo o campo de futebol, graminha por graminha, o gol, o centro e o lugar de bater os pênaltis. Do “jeitinho que está lá até hoje”, disse meu pai, quando me contou o caso. Será? Não sei se ainda está lá ou se tudo acabou com o sumiço que deram nos campinhos de futebol Brasil afora?
A essa altura, o contador de histórias considerou que eu estivesse contente e eu, de fato, estava feliz com a figura do Zé Tiu e seu amor pelo futebol, ali pertinho da sua casa, com o alarido dominical dos jogadores e da torcida. Soube disso pela tragada costumeira que dava no pito nos finais dos causos que contava. Então perguntei o que fora feito do outro sonhador de plantações desconhecidas, de lugares muito distantes e de outros centros de mundo.
Meu pai foi breve. “depois disso, o Geraldo Batista plantou batata, arranjou dinheiro e foi para o Paraná, em Sobradinho. Lá comprou 22 alqueires de mato com água em abundância. Desmatou, montou serraria e ficou rico. Até veio passar uns tempos com a família nas Posses, mas arranjou uma ferida na perna, sem cura, e morreu com isso. Criou duas famílias e deixou todos bem. Diziam que era meio ‘espelotiado’, andava armado, atirou um homem de raspão. Mas todos gente de sabedoria.”
Historias de nossa terra. Belas e emocionantes histórias e, digo, mesmo: promessas de roteiros de filme... quem sabe um dia.
Genésio Fernandes, novembro de 2011
sábado, 5 de novembro de 2011
Comunidade em luto pela perda de uma cara 100%
Pessoal.
Boa tarde
Toda a comunidade de Pintos Negreiros se encontra de luto e entrestecida pela perda de uma cara muito gente boa, muito alegre, irreverente, amigo, ...... e dono de muitos outros bons adjetivos que era o Adilson.
Tenho certeza que o mundo perde muito com a sua morte trágica, inesplicável e misteriosa.
Que a família encontre em Deus a força necessária para superar este grande e inesperada tristeza.
Minha solidariedade e sentimentos.
Abraços
Boa tarde
Toda a comunidade de Pintos Negreiros se encontra de luto e entrestecida pela perda de uma cara muito gente boa, muito alegre, irreverente, amigo, ...... e dono de muitos outros bons adjetivos que era o Adilson.
Tenho certeza que o mundo perde muito com a sua morte trágica, inesplicável e misteriosa.
Que a família encontre em Deus a força necessária para superar este grande e inesperada tristeza.
Minha solidariedade e sentimentos.
Abraços
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